quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Os tapetes voadores do Marrocos - THE END

E finalmente vamos ao capítulo final da saga marroquina! Não imaginei que fosse render tanto esses poucos dias no Marrocos, até porque ficamos apenas 48h no continente africano. Esse negócio de escrever realmente surpreende porque começo a contar sem saber exatamente aonde vou chegar e quando me dou conta, já são três posts. Acho que concluo a história aqui, vamos ver...


Bom, estávamos perdidos na Medina em Tetúan, apenas tendo a direção de Abdul I como luz no fim do túnel. Depois de vermos a mesquita, ele disse que nos levaria para ver o artesanato local feito à mão, ou como ele mesmo nomeou: "handmade". Imaginei que seria a hora de ver aquela variedade de cores, formas e tamanhos, em corredores de lojinhas, com muitas pessoas circulando, enfim, de ver o que pensamos ser o Marrocos. 


Então entramos num sobrado e subimos até o terraço (que mais parecia uma laje) pra ver a vista e tirar fotos. Depois nos levaram para uma sala onde todas as paredes eram tapetes, pediram que sentássemos e perguntaram qual chá queríamos (?). Como assim, dissemos: Não queremos chá nenhum! Insistiram que devíamos tomar, que era uma desfeita recusar e essas coisas de casa de vó quando não queremos comer ou casa de conhecidos em que a boa educação nos ensina a aceitar tudo que oferecem. Finalmente, porque somos pessoas educadas e civilizadas, aceitamos o tal chá e sentamos na sala tomada por tapetes.


Um senhor então chamou seu jovem serviçal para iniciar a apresentação das coleções da casa: socorro!!! Me senti voltando no tempo, como se eu fosse uma pessoa da nobreza local escolhendo seu enxoval, que desespero!!!! Só queria pedir pra dupla parar de trazer tapetes e muito mais de abri-los todos... Mas não adiantava, eles estavam decididos a manter a apresentação de umas sete coleções diferentes de tapetes: tamanho, material, estampas...


A essa altura, o chá já tinha chegado e era de hortelã fresca. Decidi relaxar e pensar o que eu poderia fazer para aproveitar o momento. Enquanto isso, o senhor nos deu instruções claras do que fazer depois de mostrar as últimas coleções marroquinas de toda a década: dizíamos SIM em árabe para cada um dos tapetes que tínhamos achado interessante e NÃO para o que queríamos descartar.


 Eu (parecendo mais o corcunda de Notre-Dame) e o Jú, no mundo dos tapetes em Tetúan (Marrocos)


Jamais pensei que eu fosse colocar essa foto aqui no blog porque eu estou a coisa mais horrorosa do mundo, mas resolvi me desapegar de qualquer noção de estética. Afinal de contas, é a única foto que tenho desse lugar e achei que valia a pena pagar esse mico. Bom, a essa altura, eu já estava até pensando que, de repente, seria interessante ter um "tapetinho" para fazer yoga, já que deixei o meu no Brasil... E então, eles nos separaram de sala, alegando que eram coleções diferentes e teríamos que tratar com pessoas diferentes. Em seguida, entrou um outro senhor para conversar comigo que me deu 1 papel e 1 caneta e disse pra eu anotar quanto eu pagaria por cada tapete. Como assim!!! Eu que rispidamente sei ser quando algo me irrita, falei: Eu não vou dar o preço de nada, você me diga quanto custa cada um e eu penso se me interessa! Pense num santo que não bateu, como dizem... Pra piorar, ele iniciou dizendo que era 100 euros o tapete que eu tinha gostado mais. Nessa hora, ri por dentro e pensei que jamais pagaria isso. Comecei a ficar irritada e só pensava em sair dali. Mas eu nem poderia e nem teria como! O guia havia "sumido", eu não sabia onde estava o Jú, e o mais importante: u não tinha idéia de onde estava e muito como sair da Medina. Pense numa verdadeira roubada!

Continuei minha técnica de total desinteresse nos tapetes e pedi para ir ao banheiro. Depois de quinze minutos, finalmente me mostraram aonde era o dito cujo para que eu pudesse me libertar dessa prisão psicológica que nos meteram. Quando desço, só vejo o Jú com 2 sacolas enormes. Não me contive e caí na risada!!! Jamais imaginei que ele fosse cair nesse conto... Mas ainda não acabou! Me levaram para outra salinha onde estavam os dois tapetes que eu tinha recusado pra seguir a negociação! Eu sei que o primeiro senhor nem apareceu mais na minha frente, ainda bem! Vieram mais dois, sendo um deles o guia Abdul I que resolveu ressurgir do nada. Eu disse que não pagava mais de 30 euros e acabou ficando nisso. Depois, o vendedor ainda me pediu gorjeta, vê que cara de pau! Ainda bem que eu nem tinha muitas moedas! 

Na verdade, chega um ponto que a gente paga para se livrar da situação e foi o que ocorreu comigo. Finalmente depois dessa epopéia, fomos almoçar e dar um pouco de risada de tudo que havia acontecido... 

Jú, eu e dois amigos americanos almoçando na Medina em Tetúan (Marrocos)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Os tapetes voadores do Marrocos - parte II

O blog já passou de mais de 1.140 acessos! Nem sei exatamente o que isso significa, mas eu me espantei com o número quando vi nas estatísticas. E o mais curioso (pra mim que sou uma recém blogueira) é que dá pra ver a origem dos acessos, ou melhor, o país de onde vem as conexões. Vi Polônia, na semana passada tinha Rússia, Estados Unidos, Holanda... Fico pensando quem são essas pessoas anônimas que eu não conheço que estão lendo a mochila da japa... 


Mas vamos ao que interessa: o Marrocos! Depois do camelo sonolento, seguimos até a cidade de Tetúan onde passamos apenas algumas horas... Mesmo pegando o esquema de 2 dias, não conseguimos fugir desse bate-volta atormentador que reina nas agências de viagens. Nesse pequeno trajeto terrestre no Marrocos, vimos um trecho grande de praias, inclusive com resorts e até o Club Méd que, de acordo com Abdul I, funciona apenas entre maio e setembro. Fiquei pensando nos trajes que as muçulmanas usam quando vão à praia... Sendo inverno agora, claro que não havia ninguém naquelas areias brancas... E depois caiu a ficha de que obviamente os locais não vão a essas praias, isso é coisa pra turista europeu num país cada vez mais ocidentalizado...


E finalmente chegamos à famosa Medina de Tetúan. Não vi "O Clone" e não tinha idéia do que era uma Medina. Na realidade, se trata de uma gigantesca vila encerrada no meio da cidade, cercada por muros, essa com mais de 30 mil moradores, segundo Abdul I. Perguntei qual a diferença entre morar dentro ou fora da Medina e ele disse que dentro é bem mais barato.


Uma das várias entradas da Medina de Tetúan (Marrocos)

O fato é que depois de entrar na Medina me convenci da importância de ter um guia. É um enorme labirinto de ruelas sem nome, algumas em que passa apenas uma pessoa por vez, como essa da foto abaixo em que tive que esperar umas três pessoas passarem e depois mais outras tantas para fazer a foto.

Ruela não, viela na Medina em Tetúan (Marrocos)

Outra coisa que me chamou a atenção foi que antes de entrarmos, Abdul I apresentou um senhor dizendo que ele iria nos acompanhar nesse trajeto dentro da Medina, ficando sempre por último dentre todos do grupo. Seguimos adiante e esse senhor com uma roupa típica de capuchinho veio atrás.


Nosso grupo: Jú (dir.), Abdul I, casal de americanos e vigia capuchinho (esq.), em frente à Mesquita dentro da Medina (Tetúan, Marrocos)

Informações básicas sobre essa Mesquita em Tetúan (Marrocos)

Aproveitei para perguntar para Abdul I porque alguns muçulmanos usavam essa roupa de capuchinho (que só me fazia lembrar do Sean Connery no "O Nome da Rosa"), mas a resposta foi tão estranha quanto a própria roupa... "Não tem diferença, o Marrocos é um país democrático, livre!". Segui adiante com a dúvida. Bom, além de haver muitas casas, a Medina também é um grande mercado livre onde se vende de tudo: frutas, verduras, ervas, chás, pães, roupas, sapatos, tapetes... Ah, prometo que no próximo post, conto a história do tapete, se possível ainda essa semana!


PS: Divulgaram as fotos finalistas do concurso e infelizmente não fiquei... Mas, bola pra frente, afinal de contas, como diz Macaco Simão quem fica parado é poste!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Os tapetes voadores do Marrocos - parte I

Apesar da correria do dia-a-dia, estou cumprindo minha meta de pelo menos escrever um post por semana para o blog. Claro que o ibope ajuda bastante e notei que vocês sumiram daqui! Mesmo assim, não vou me deixar abalar por isso. Tem muita gente que não coloca comentários aqui, mas me manda email dando um retorno.


Bom, depois de ir até Gibraltar, claro que dei uma rápida escapulida para o Marrocos! Afinal de contas, Gibraltar fica no extremo sul da Espanha, bastando atravessar uns quilômetros no Mediterrâneo. O menor trecho entre a Europa e a África é de apenas 14 km! A dica da hora é se hospedar na cidade espanhola de Algeciras. Não tem quase nada lá, apenas os vários barcos que ficam atravessando entre os continentes. A cidade parece um eterno domingo... Ainda assim, vale a pena se hospedar lá porque Gibraltar é uma cidade mais cara, já que tem como base de cálculo as valorosas libras.


Vista do continente africano, em Gibraltar


Falando em dindin, descobrimos que apenas essa travessia (ida e volta) de barco entre Algeciras e o continente africano era no mínimo 66 euros! Assalto à mão armada! Foi desolador escutar isso de mais de uma pessoa... Acabamos entrando numa das poucas agências de turismo que estavam abertas em plena siesta, ainda por cima num domingo! O cidadão deu duas sugestões: passar o dia no Marrocos por 50 euros conhecendo 3 cidades (socorro, que pesadelo só de pensar nisso!) ou passar dois dias, dormindo uma noite em Tânger por 95 euros conhecendo os mesmos lugares, mas com um dia livre (bem melhor...). Resolvemos fechar nessa segunda opção porque esse esquema de bate-volta ninguém merece!


No dia da ida para Marrocos, madrugamos porque o barco saía meio cedo. O trajeto é curto, demorou apenas uns 40 minutos e teve como parada final a cidade de Ceuta. Isso é outro rolo! Apesar de ficar na África, é uma colônia espanhola onde tudo segue a regra da Espanha. Já no desembarque, havia Abdul primeiro (é que depois teve outro Abdul, por isso decidi apelidá-lo de Abdul I) que estava nos esperando. Atravessamos a fronteira onde finalmente tive um carimbo no meu passaporte e finalmente entramos no Marrocos. Esse negócio de União Européia agora faz com que nossos passaportes não tenham mais nenhum carimbo... 


E, claro, que no meio do caminho, tinha o quê? Um pobre de um camelo morrendo de sono que apenas queria dormir, mas era explorado por seus donos para ficar dando voltas de 100 metros com todos os turistas que passavam. Detalhe: tudo isso na estrada, num acostamento.


 O coitado do camelo bocejando ou reclamando que não queria mais carregar ninguém...
no Marrocos

Junto com o camelo, estavam seus 3 ou 4 donos, apenas esperando os interessados em dar uma volta para então receber uns trocados. Eu e meu amigo Jú não queríamos andar nele, fiquei com vontade de olhá-lo e tirar fotos. Ainda bem que o casal de americanos que estava conosco se encantou com essa possibilidade e imediatamente subiu no sonolento. Ao final da volta, o casal pediu para que tirássemos uma foto deles com o camelo. Na sequência, um dos supostos donos se ofereceu para fazer o mesmo comigo e com o Jú. Achei atencioso da parte dele e obviamente aceitamos. Pra quê? Já estávamos voltando para a van quando esse mesmo senhor começou a cutucar o Jú pedindo dindin pela foto tirada. No final, essa foto que nem queríamos tanto assim custou 1 euro e nem andamos no bichinho, enquanto que o casal americano andou, tirou foto e pagou o mesmo. É uma comédia esse lugar... Mal sabíamos o que nos aguardava nessas terras! Inté semana que vem!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

"Mi vida la dejé entre Ceuta y Gibraltar..." - Manu Chao

Apenas para dar um feedback em relação ao concurso de fotografias, terminou a votação virtual e eu consegui 3 fotos com uma média interessante. São elas: Cocotaxi en Cuba (4,07), Yo, mi hermana y mi llama (4,05) e Parezco feliz (4,00). Mas ainda não sei se elas ficaram entre as 25 mais votadas que vão para a exposição e para o júri final. Até o dia 10/02 devo receber um email, caso eu esteja nessa feliz lista. Então agora só resta realmente aguardar... 


O que eu trago na minha mochila, dessa vez, é a minha visita à última colônia existente aqui na Europa. Pasmem, a cidade de Gibraltar no extremo sul da Espanha, é o último reduto colonialista que ainda perdura por aqui! Não fazia idéia de que isso ainda rolava na modernosa União Européia. O fato é que a cidade tinha um poder militar imenso e foi conquistada pela Inglaterra numa guerra contra a Espanha sabe-se lá quando. Sua localização era estratégica para o controle de barcos e navios aqui no Mediterrâneo. Vendo de longe, antes de chegar, achei Gibraltar muito parecido com alguma coisa no Brasil... Vejam e não digam se esse morro não é igualzinho ao Pão de Açúcar?


Vista de Gibraltar, antes da fronteira, ainda na Espanha


Até hoje não houve acordo entre os dois países sobre o que fazer com esse território. Conclusão: para chegar lá, é preciso passar pela fronteira e pela imigração. Entrando na cidade, tudo muda, o inglês passa a ser a língua oficial, assim como a libra enquanto moeda principal. Só que nesses tempos de globalização, se escuta espanhol quase que o tempo todo, assim como é possível usar euros tranquilamente.


Assim que passamos a fronteira, perguntei a um policial se o centro era longe e ele me respondeu que não, bastariam 10 minutos de caminhada. Quando me dou conta, vejo que estou atravessando a pista de um aeroporto! Imagino que lá deva ser o único lugar do planeta onde cruzam pedestres, bicicletas, motos, carros, enfim, todo tipo de meio de transporte terrestre aonde o avião levanta vôo! Na foto abaixo, é possível ter um panorama geral da cidade e ver a pista do aeroporto cruzando com a principal avenida que leva ao centro de Gibraltar. 


    Vista da entrada da cidade, a partir do morro de Gibraltar


Quando estávamos saindo da cidade, já à noite, haviam fechado a passagem de pessoas e carros porque ia decolar um avião! Ficamos lá esperando bem uns 15 minutos até o avião começar a taxear pela pista. Na hora de decolar foi aquele barulho ensurdecedor e na tentativa de tirar uma foto ficou apenas um rastro de luz, o bicho é rápido demais, nem deu pra registrar...

Mas deixo aqui outra foto bem pitoresca de algo que também só deve ter em Gibraltar: uma caverna em que ocorrem concertos de música clássica! Pelo silêncio que costuma ter dentro de cavernas, suponho que deva ser no mínimo espetacular assistir a um concerto desses, pela pureza do som.

Caverna de São Miguel, em Gibraltar