quarta-feira, 30 de março de 2011

Em trânsito...

A mochila da japa está em trânsito, dessa vez pelo Brasil! Por isso, o sumiço um pouco mais prolongado daqui do blog... Primeiro por conta das várias coisas que eu precisava resolver antes de viajar, a viagem em si (Espanha-Brasil) e agora a estadia aqui na terrinha...


Por isso, vou deixar apenas duas fotos de uma das minhas últimas aventuras na Europa... e assunto do próximo post, claro!


Serra Nevada, a única estação de esqui na Andaluzia e uma das mais procuradas porque quase sempre há sol e um lindo céu azul! (Granada, Espanha)

 Uma anônima terminando seu snow-boarding e saindo na pista (Granada, Espanha)

quarta-feira, 16 de março de 2011

A (quase) Olinda aqui na Espanha

Aproveitei o Carnaval para então conhecer qual é a "viagem" dos espanhóis por aqui e o que fazem nesse feriado. Na realidade, pra começar, nem há feriado... O povo trabalha e estuda a semana toda, então o jeito é aproveitar o sábado ou o domingo apenas. Para isso, tive que ir para Cádiz que é onde o povo vai "brincar" (como diz a galera recifense) ou "pular" (como costuma falar o povo de Sampa e adjacências).


A primeira coisa que me disseram (e foi de uma espanhola!) foi que não poderia faltar de jeito nenhum uma fantasia ou o "disfrace" em bom castelhano. Já gostei do negócio e obviamente lembrei "das Olinda", do "Enquanto Isso na Sala da Justiça" e toda aquela farra pernambucana... 


O fato é que, chegando na cidade e antes de colocar o pé na praça principal, já comecei a ver de longe a bagunça e as infinitas cores... 


Claro que um touro e um toureiro não podiam faltar no Carnaval em Cádiz (Espanha). Nessa hora, o povo fez uma roda em volta dos foliões pra ver a brincadeira que simulava um dos rituais mais tradicionais e também polêmicos da Espanha: a tourada.

 Aqui, nessa situação, os dois são amigos e agradecem os aplausos (Cádiz, Espanha)

Uma fantasia super criativa (e incômoda, suponho!) que se resumia a assustar as crianças que se aproximavam da mesa. Na foto não parece, mas o rapaz conseguia amedrontar todo mundo e eu fui uma delas!
Fidel há uns 50 (?) anos atrás (Cádiz, Espanha)


Mas como nada é perfeito, preciso confessar uma coisa: quase não havia música! Vi apenas alguns pouco grupos espontâneos com instrumentos e alguma coisa de percussão fazendo barulho e juntando gente em volta. No mais, o povo ficava circulando, conversando em rodinhas e bebendo (muitíssimo!). E todo mundo preparado, nesse sentido, com seu copinho, garrafas e recheios. A maior parte dos bares fecha pra atendimento interno, coloca um balcão pra fora e fica vendendo coisas, sem que as pessoas possam sentar... Resumo: isso é quase Olinda! Se não fosse pela falta de blocos e troças, diria que é muito parecido, e até melhor porque tem muito mais espaço para andar e faz menos calor!!!!  
  
Pra não dizer que não achei nada, encontrei esse grupinho bem simpático que alegrou nossos ouvidos!


Aqui, meus amigos que estavam super originais de iPad (chinês, rsrs), apesar das caras sérias. Não vimos mais ninguém que teve essa idéia, somente uma dupla de iPhone.


Eu e meu amigo Lud que improvisamos uma fantasia de palhaço por menos de 4 euros e fomos foliões por algumas horas aqui na Espanha! 

sexta-feira, 11 de março de 2011

"Olha a cabeleira do Zezé..."

Cuarteto a la Woodstock en Cádiz (España)

Infelizmente não era nascida para ter ido para Woodstock, mas consegui ter pelo menos um dia de Carnaval aqui na Espanha! Como comentei antes, aqui na Europa os Carnavais mais conhecidos são de Cádiz e Veneza. Como a grana tá meio curta, acabei me aventurando nas bandas espanholas. Claro que nem chega aos pés do que fazemos aí no Brasil, mas confesso que me diverti bastante! O pessoal é bem criativo nas suas fantasias...


Uma anônima preparada para o Carnaval de Cádiz (Espanha)


E semana que vem eu conto mais. Inté!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Os últimos momentos em Marrocos

Depois da saga dos tapetes em Tetúan, finalmente seguimos para Tânger, outra cidade marroquina bastante importante, onde iríamos passar a noite. Chegamos ainda de dia e deu para dar uma passeada antes de ir para o hotel (finalmente!). Mas é claro que antes desse momento tão desejado, Abdul I nos levou novamente para outra medina e conseguimos pegar uma chuva de granizo em plena África! Bom, quero dizer à vocês que no Marrocos, por incrível que pareça, faz frio!


Pra acabar esse city-tour sem fim, Abdul I ainda fez questão de nos apresentar para o Abdul II (que eu apelidei assim, mas eles não têm nenhum parentesco... começo a achar que o nome Abdul no Marrocos equivale ao nosso José!). E a tarefa de Abdul II seria nos acompanhar no segundo dia. Estávamos nós quatro (eu, o Jú e o casal de americanos) esgotados, sentados no sofá do hotel apenas querendo fazer qualquer outra coisa sem guia. Mas Abdul II estava decidido a fechar os passeios conosco para o dia seguinte: todos pagos à parte, obviamente, já que não estavam incluídos no pacote "Conheça a África em 48h".


Disse para ele que queríamos descansar e pensar um pouco antes de decidir (na realidade, queria também ganhar tempo para dar uma olhada na internet e ver o tinha na cidade!). Ele, de modo muito simpático, respondeu: "Ah, tudo bem, vou ali e volto em 5 minutos" e saiu do saguão. Nos olhamos e rapidamente assumimos nosso total desinteresse de repetir o erro e ainda pagar mais por aquilo que não queríamos. O Abdul II ficou injuriado de imediato quando soube, perdendo toda a simpatia inicial. Quase saiu sem se despedir... Nesse momento, concluí que tinha feito a coisa certa!


 Curiosidade: um teclado franco-árabe no Marrocos

Fomos em busca de uma internet para saber o que tinha em Tânger e depois de muito andar e perguntar, finalmente encontramos uma lan-house. Usando esse teclado, me senti completamente uma analfabeta contemporânea! 5 minutos pra conseguir fazer uma pesquisa no Google! Digitava errado, não conseguia apagar, abria outra página, não sabia fazer nada! E tentando me comunicar com o menino que lá trabalhava, vi que linguagem é tudo (o povo do discurso que adora isso!). Isso porque eles falam apenas árabe e/ou francês. Que surreal tentar falar com alguém, sem ter nenhuma palavra em comum! Na verdade, primeiro é surreal e depois é desesperador! 

   Praça em Tânger com uma mesquita ao fundo (Marrocos) 

Dois muçulmanos com a roupa tipo "O Nome da Rosa" (que eu não consegui descobrir se existe diferença entre os que usam ou não, ou se apenas é o modelito deles de inverno!) e um cuidador em Tânger (Marrocos)

Interior da mesquita da foto acima com um senhor fazendo suas preces (Tânger, Marrocos)

O que eu achei mais curioso na questão muçulmana é que, várias vezes ao dia, as mesquitas acionam um super megafone que fica no alto das torres, fazendo um chamamento para que as pessoas cumpram suas orações diárias. Nessas horas, várias pessoas começam a se dirigir para as mesquitas mais próximas, tiram seus sapatos logo na entrada e entram. Depois de encontrarem um cantinho agradável, se ajoelham e muitos abaixam sua cabeça até o chão e lá ficam.

Outra curiosidade: uma placa de PARE em árabe (Tânger, Marrocos)

Esse é o super resumo das minhas 48h no Marrocos. Agora já é Carnaval aí no Brasil, ou pelo menos em grande parte dele. E eu vou conhecer aqui na Espanha o que é o Carnaval deles. Aproveitem e até semana que vem, depois da quarta-feira de cinzas, claro!

quarta-feira, 2 de março de 2011

"Merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza..." - Marisa Monte

Pessoas do meu coração,
Abro esse post para uma reflexão do Xando (pra quem não sabe, é o meu amor!), ou melhor uma "ruminação" como ele mesmo diz. Algo que, na "correria" dos dias de hoje, temos feito pouco... Depois que li, sugeri que ele fizesse um artigo! Ele escreve sobre a diferença entre educação e gentileza. Bom, joguei a bola! Leiam e opinem! Até sexta, coloco outro post sobre minha aventura marroquina. Fui!


Uma das frases mais conhecidas do poeta Gentileza

"Eu sou um cara que fico remoendo, ou como dizia um amigo "ruminando" as coisas que acontecem comigo. Algumas eu processo por anos, outras apenas por dias. Até que eu consiga absolvê-la ou absorver-me. Esta nota é o resultado de uma ruminação de alguns dias. Convido meus amigos(as) a participarem dessa “lombra” comigo. 

Como a maioria de vocês sabe, minha formação em história e a opção pelo marxismo deixaram-me o costume de procurar pessoas que produzam sobre um determinado tema para resolver minhas dúvidas. Entretanto, nem todos os assuntos são temas de trabalhos científicos, ou nem sempre minha memória me deixa lembrar. Nesses casos tento buscar pequenos consensos para não cair no total relativismo ou no simples achismo.

No caso específico dessa nota, uma amiga me deixou com uma pulga atrás da orelha quanto a relação entre "educação" e "gentileza". Assunto que estive ruminando por alguns sóis e luas. Como não lembrava da existência de trabalhos acadêmicos sobre o tema, então me vi forçado a buscar ajuda em um dos meus dicionários. Apesar da natureza simplificadora dessas obras acredito que, em questões de linguística ou de simplesmente de semântica, os dicionário assumem esse papel de criar um lugar de pequenos consensos ou mesmo de ponto de partida.

Dessa forma resolvi ir ao Houaiss e tentar determinar as diferenças ou semelhanças entre os dois "vocábulos". Vamos lá:

- EDUCAÇÃO (datação: século XVII); substantivo feminino: conhecimento e observação dos costumes da vida social; civilidade, delicadeza, polidez, cortesia;

 - GENTILEZA (datação: século XIV); substantivo feminino:
1 qualidade ou caráter de gentil
2 ação nobre, distinta ou amável
3 amabilidade, delicadeza

Assim, passei a fazer uma análise rápida e identifiquei que os 2 vocábulos buscavam traduzir coisas bastante próximas (a meu ver). Chegando inclusive a ter um significado em comum: delicadeza. Mais uma vez recorrendo ao Houaiss percebi que delicadeza significaria, dentre outras coisas, "atitude gentil; cortesia, civilidade". Ou seja, trazia em si o significado das duas palavras.

Apesar da impressão de uma diferença que eu não conseguia explicar, estava meio perdido num ciclo vicioso semântico! Até que a datação das palavras me chamou a atenção!! Foi então que a ficha caiu!! O dicionário cumprira sua função de ponto de partida! Explico...

A palavra gentileza, mais antiga, com datação do século XIV, apresenta um significado mais abstrato ligado a nobreza, distinção, amabilidade. Lembrando que estamos falando de uma Europa ainda feudal, entretanto caminhando a passos largos para o capitalismo. 

Em contraposição, o vocábulo Educação, com datação do século XVII, trás um significado mais concreto ligado ao preparo do indivíduo para o trato social. Foi com a ideia fixa de que essa visão mais parecia a burocratização das relações, que aos poucos lembrei-me que o século XVII é o da construção da civilidade também enquanto forma de distinção entre a aristocracia-decadente e as demais classes sociais. Era a criação da “etiqueta” como forma de separar os nobres dos demais seres brutos. Interessante obra que dedica parte de seu tempo ao assunto é o terceiro volume da obra “história da vida privada: da Renascença ao século das luzes”, dos franceses Philippe Ariès e George Duby. (Detalhe: tem uma edição da companhia de bolso baratinha)

Uma citação que vale a pena: “O espaço governado pela civilidade é o da existência coletiva, da sociabilidade distintiva da corte e dos salões, ou do ritual social em sua íntegra, cujas normas obrigatórias devem aplicar-se a todos os indivíduos, seja qual for sua condição.”

Entendo que numa sociedade muito mais complexa que a existente no início da modernidade, a educação recebeu outros significados, para além do original, e que exerce uma função essencial para a existência coletiva. Entretanto, entendo que a gentileza possui íntimos laços com a educação. Na verdade acredito que a gentileza é o passo a mais que precisamos dar, de forma a não deixar que a educação seja um conjunto de normas secas, insípidas.

Bem... é isso! Apenas ruminando algumas coisas... espero que as pessoas aguentem ler até o final!"