domingo, 30 de outubro de 2011

Outono no Leste Europeu: Praga - parte I

Finalmente consigo retomar meus posts de viagens literalmente falando! E reinicio agora com uma viagem que fiz pro Leste Europeu antes das minhas aulas do mestrado começarem na Europa. Começo por Praga, na República Tcheca, onde estive mochilando em 1997 e voltei em 2010. Pra se ter ideia das diferenças entre os dois momentos que visitei o país, na década de 1990, tivemos que conseguir visto pra entrar já que a Tchecoslováquia havia saído recentemente de um regime autoritário e estava iniciando sua abertura política. O país tinha praticamente acabado de virar República Tcheca. Ir pra lá naquela época era ultra-exótico. Helô S., você não iria reconhecer quase nada se fosse hoje, parece outro país!



Chegamos lá no outono de 2010, era noite e já fazia muito frioo... A primeira abordagem realmente tcheca ocorreu logo na saída da estação de trem, onde um rapaz insistentemente perguntava ao meu amigo se ele queria "chocolate" ou a conhecida marijuana. Estranhamos isso porque em nenhum outro lugar na Europa tinha rolado esse tipo de "aproach". Bom, seguimos pro nosso hostal. No caminho, percebemos que o bairro era dominado por muitas casas noturnas de show de sexo, massagem e sex-shops. A essa altura, pensei: "Só falta o rock'n roll agora!". Mas isso não apareceu... Praga não pareceu muito receptiva nessas primeiras horas. 


Finalmente depois de muitas olhadas no mapa e nas ruas, conseguimos chegar no hostal e surprise! Não havia ninguém! A noite ia ser bem mais longa do que imaginávamos... Nessas horas, tudo parece bem mais difícil: se comunicar em outra língua (falamos inglês, mas eles, os tchecos, nem sempre...), fazer um telefonema internacional... Ligamos e nada de alguém atender. Acionamos o plano B: procurar outro lugar pra dormir pelo menos a primeira noite. Próximo dali, tinha apenas um outro hostal nas redondezas e que era infinitamente mais caro! Pelo menos, o funcionário foi super bacana com a gente, inclusive, ligando do telefone dele pro número de onde tínhamos feito reserva. Ele então conseguiu contato e a figura responsável disse que estava chegando. Salve, salve! Nossa cama estava garantida! 


Nosso guia espanhol em frente à estatua do Kafka (Praga, República Tcheca).

No dia seguinte, pra compensar o frio do Leste Europeu, fez um sol espetacular daqueles em que o céu não tem nenhuma nuvem. Decidimos entrar no esquema do "free walking tour" (http://www.neweuropetours.eu). Eu não conhecia a proposta e achei muita boa! Pena que fazer isso no Brasil parece inviável... Bom, você escolhe em que língua quer seu guia (a maioria é em inglês, mas também quase sempre tem em espanhol) e no local e hora marcados você se junta ao grupo. A ideia é caminhar pela cidade à pé, onde o guia apresentará os principais pontos da cidade, assim como a história do lugar. O passeio é tranquilo, tem várias paradas e você nem nota o tempo passar. Ao final, você dá aquilo que acha justo, inclusive podendo não pagar nada, se não tiver gostado da caminhada. Como eles dizem: We work for tips!


O famoso relógio medieval astronômico (e astrológico!) Orj (Praga, República Tcheca)

Em cima do relógio, tem duas janelinhas onde, em determinadas horas do dia, passam os 12 apóstolos. Então, se você notar uma certa aglomeração de pessoas, tenha certeza que logo logo os bonecos irão sair pra fazer seu showzinho. Entenda que, nos dias atuais, Praga está praticamente tomada por turistas. Confesso que pra mim foi atordoador estar sempre no meio de centenas de pessoas passeando... Jamais imaginei que aquela Praga que eu visitei em 1997 não existisse mais. O que obviamente não tira a beleza do lugar. Mas procure fugir do período de férias européias e, principalmente, o verão (meses de julho e agosto). A capital da República Tcheca acabou se tornando um grande ponto  turístico na Europa, principalmente, por seus preços acessíveis e por ter sido um dos primeiros países do Leste Europeu a se abrir politicamente. Falando em política...

  Quadro que estava dentro de um bar (Praga, República Tcheca)

Tirei a foto acima por intuição e curiosidade. Deduzi que "politische" era política em português e fiquei curiosa pra saber o que significava a tal frase. A primeira está em alemão e a segunda em tcheco. Depois, uma amiga traduziu dizendo que "falar sobre política é proibido". Surreal isso, não?

Pra fechar, algumas coisas imperdíveis em Praga: experimentar o absinto original (tem que ser aquele que servem em bares, com 1 colher de açúcar que se queima na hora), visitar o Castelo de Praga e a (gigantesca) Catedral de São Vito que demorou mais de 2 séculos (!) pra ser concluída. E o que mais te interessar! 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Entrevista com Maria Rita Khel na Cult


Postando uma entrevista de outra ídola minha... Tirei esse material do blog da Boitempo.


Escuta aqui: entrevista de Maria Rita Kehl à Revista Cult


Entrevista publicada na Revista Cult nº 162 (outubro de 2011)
Maria Rita Kehl foi jornalista antes de se tornar psicanalista. Juntando essas disciplinas, desenvolveu uma forma de crônica em que analisa o noticiário identificando sintomas da psique brasileira. O estilo carregado de coloquialidade e referências pop facilitou a comunicação com os leitores dos jornais, revistas e sites para os quais tem escrito. 
No ano passado, ela exerceu essa atividade regularmente em O Estado de S. Paulo, origem da maior parte dos textos reunidos em 18 crônicas e mais algumas (Boitempo). 
A autora lança, portanto, uma obra de apelo mais geral do que O tempo e o cão (Boitempo), tríade de ensaios sobre a depressão que lhe rendeu o Prêmio Jabuti na categoria não ficção. 
Kehl teve sua coluna interrompida em outubro passado, logo após publicar uma crônica sobre o voto da classe média. “Dois pesos…”, na qual critica mensagens que corriam pela internet desqualificando o voto dos beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família, tornou-se popular nas redes sociais e marcou o debate eleitoral. 
Essa e outras crônicas que buscam expor os recalques da sociedade brasileira estão na coletânea, que deve chegar às livrarias no final do mês. 
CULT – Ao descrever o filme Cronicamente inviável, a senhora fala da “indignação moral meio infantil” que acometeu o diretor Sérgio Bianchi, que depois amadureceria. O que impede a classe média de amadurecer politicamente? 
Maria Rita Kehl - Não sei se posso responder com justeza a essa pergunta. A primeira resposta que me ocorre é: o conforto relativo que se pode comprar (ou que se espera poder comprar) para suprir as carências do Estado no plano da vida privada não impede, mas poupa boa parte da classe média de amadurecer sua perspectiva de cidadania, que remete necessariamente à vida pública. 
Quem acede à classe média planeja imediatamente conseguir pagar pela educação dos filhos, pela saúde, pela segurança na rua em que mora etc., e com isso, ufa!, deixar a política pra lá. 
No Brasil, todos conhecem e denunciam a corrupção, a injustiça social, o desleixo dos políticos, mas numa perspectiva fatalista, do “este país não tem jeito jeito mesmo…”, e não numa via de engajamento em protestos transformadores. 
Que recalques da cultura brasileira a senhora diria que melhor evidenciou nos textos deste livro?
O mais importante, o mais onipresente, é o recalque da brutal violência da desigualdade social brasileira. É imprescindível que os intelectuais que se consideram de esquerda tentem se colocar, ao escrever sobre as mazelas brasileiras, no ponto de vista do outro. 
Às vezes escuto dizerem que os pobres no Brasil não sabem falar sobre sua perspectiva de classe. Sabem, sim, e com muita propriedade. É só escutá-los. O que eles não têm é acesso aos meios de divulgação de sua palavra – o que já revela, de saída, a brutalidade da exclusão a que me refiro. 
Sem perder o rigor da linguagem psicanalítica e a referência a dados jornalísticos, a senhora usa bastante a linguagem coloquial. De onde vêm a gíria e o ditado popular em sua escrita? 
Sem demagogia, acho que antes de mais nada o uso da linguagem coloquial, para qualquer escritor, vem da vida, da circulação pelo mundo. 
Creio que a conquista da linguagem acadêmica, ou daquela que chamamos de “elevada” – e que tem grandes méritos, como se deve reconhecer –, exige o recalque de parte dessa memória que é auditiva, infantil ou adolescente, assim como de todas as expressões que circulam nas letras de música popular, nas gírias, naquilo que os poetas dos anos 1960/70 chamavam de “a fala das ruas”. 
Mas é bom lembrar que a sensibilidade para escutar as expressões populares também vem da clínica. Freud, o criador da psicanálise, não excluiu de seus conceitos teóricos a origem popular das expressões que escutou da boca de seus pacientes. 
Embora diga que prefere adiar suas “veleidades literárias” para a velhice, a senhora testa os limites formais da crônica em textos como “Sua única vida”, que evoca a morte de um jovem em uma chacina em São Paulo: “Pensou em guaraná maconha Maria Inês calcinha…”. Sente que a hora da literatura está chegando em sua vida? 
Gostaria que fosse assim, mas não posso afirmá-lo. Esse texto foi realmente escrito sob forte emoção, eu me coloquei no lugar do menino baleado e pensei: como é você perceber que está morrendo e não poder nem pedir socorro? O que será que passa na cabeça de quem percebe que a vida chega ao fim aos 15, 16 anos? 
Quanto à literatura, falta-me a imaginação do ficcionista. E falta-me, principalmente, tempo. A escrita literária exige um tempo de incubação, um tempo vazio, que no momento não tenho. Espero ter, um dia. Antes tarde do que tarde demais. 
O artigo “Dois pesos…”, que culminou em sua saída da coluna quinzenal em O Estado de S. Paulo, ganhou destaque na edição desta coletânea. Fazendo uma paráfrase, o livro é uma espécie de cura para o impacto traumático do acontecimento? 
Para mim, sim. Acho que nenhum artigo meu foi tão lido como aquele, depois que o cancelamento da minha coluna vazou para o Twitter e foi o item mais divulgado nacional e internacionalmente nas 24 horas seguintes. 
Soube de gente que mudou o voto por causa de “Dois pesos…”, principalmente entre jovens que estavam indecisos. 
Claro que aquele excesso de visibilidade me fez esquecer momentaneamente a perda do espaço do Estadão, mas isso não significa que não tenha perdido algo que tinha muito valor para mim: não só o espaço para me manifestar quinzenalmente de forma mais ou menos livre (nem tanto, no fim das contas), mas também o desafio de escolher os temas – ou ser escolhida por eles –, apurar o estilo para caber no espaço limitado etc. 
Agora, o lançamento deste livrinho com as crônicas também vai me ajudar a reparar a perda.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Viajando em Clarice...


Terminei de ler, há pouco tempo, a biografia dessa figura que dispensa palavras. 
E esse foi um dos poemas que traduziu muita coisa importante pra mim...


Eu sei, mas não devia - Clarice Lispector


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de  fundos e a não ter outra vista que 

não as janelas ao redor. 
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. 
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma a ascender cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas 
filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias de água potável.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza,
para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, 
e que gasta de tanto se acostumar,
e se perde de si mesma.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Retrospectiva: meu primeiro perrengue na Espanha!

Depois de alguns meses sem escrever pro Sair do Brasil, eis que finalmente consigo fazer um post novo pra eles!



Nesse post, conto um pouco dos primeiros perrengues que vivi logo no meu primeiro dia na Espanha! Quem for sair do Brasil, seja como turista, seja para morar, precisa ter muito jogo de cintura... 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Um pouquinho da charmosa Lisboa

A última aventura da mochila foi bem mais modesta, se comparada à Turquia que abalou as estruturas: conhecer nosso colonizador e mais próximo vizinho na península ibérica - os portugas!


Pra desvendar a capital portuguesa, dedici ficar no bairro de Belém, já que muita coisa que eu queria visitar estava por lá. Como também nao tinha pretensão de fazer farra à noite, foi a escolha perfeita! Logo depois do café da manhã, esbarrei com uma feirinha de antiguidades por um acaso que acontece ali no bairro e saí pra conhecer as redondezas. Continuei minha andança e descobri o Museu de Arte Moderna que estava com entrada gratuita: adoroo!


Museu de Arte Moderna (Lisboa, Portugal)

Pra completar, ainda tive o privilégio de ver objetos de um artista que eu amo e que jamais pensei que encontraria em Portugal, assim sem procurar. Dalí: tudo de bom!


Telefone branco afrodisíaco - Salvador Dalí - 1936 (juro que nao inventei esse nome, é do próprio, claro! Lisboa, Portugal)


Pode parecer o óbvio ululante, mas depois de passar pela clássica confeitaria dos pastéis de Belém, entendi que nunca havia comido um verdadeiro pastel de belém! Fiquei viciada: comia pelo menos um todos os dias! Ele é crocante e tem um recheio quente divino, único!


Fachada da confeitaria de 1837 (!) que fica com filas gigantes em algumas horas do dia (Lisboa, Portugal)


Logo abaixo está a Torre de Belém que fica na beira do rio Tejo e é do século XVI. A arquitetura do lugar é bem interessante e vale a pena pagar o ingresso pra conhecer os vários andares da torre. É patrimônio mundial da UNESCO.

Torre de Belém (Lisboa, Portugal)


Na sequência, tem o Mosteiro de São Jerônimo que é enorme e também parada obrigatória no bairro de Belém. O que ninguém conta e você descobre sem querer é que, nos domingos pela manhã até 14h, a entrada é gratuita! E parece que isso é para a maioria das atrações em Lisboa. Acabei economizando 7 euros que me ajudou a pagar o almoço. Que foi adivinha o quê? Isso mesmo: bacalhau, claro! Amo esse dito cujo de qualquer jeito: assado, na brasa, na salada, com grão de bico. Se bem feito, no ponto de sal, vale de qualquer modo!

Fachada do Mosteiro de São Jerônimo (Lisboa, Portugal)


Interior do Mosteiro (Lisboa, Portugal)


Pra resumir: quem for à Lisboa, se puder, fique no bairro de Belém. Tem muita coisa bacana por ali. Agora se quiser balada, não recomendo! Se hospede no centro e passe uns dois dias passeando por Belém. E não esqueça por nada no mundo de comer o pastel de Belém! Inté a próxima!